Quando eu era pequena, passava a noite em claro, ansiosa pelo momento de carregar o carro para ir para Tramandaí. Acordávamos às 3h para carregar o carro, aos cochichos, já que os vizinhos dormiam. Verão significava ter mais tempo pra brincar, estar com os amigos.
Estar com amigos era tudo que a gente queria, brincar era tudo que a gente queria. Em que momento de nossas vidas abrimos mão do direito de brincar? Ansiamos pelo momento de nos tornarmos adultos, sem ter a noção do que significa ser maduro e o verão tornou-se, para a maioria de nós, um período de solidão. Ausência de pessoas queridas. Vai cada um para um canto. Poucos admitem a solidão, isso em qualquer idade, e ao mesmo tempo em que nos sentimos sós, nos fechamos mais e mais. Os argumentos variam: “preciso descansar”, “a fulana é chata”, “não estou a fim”, “dá uma trabalheira”...e por aí vai. Já não lembramos nossos sonhos, e esquecer os sonhos é abrir mão da nossa própria identidade. Não mais vivemos, apenas existimos. Procurar alguém que nunca mais procuramos e surpreendermo-nos com sua receptividade e acolhida. Convidar amigos despretensiosamente e surpreender-se com nossa própria alegria em recebê-los! Falando em pretensão, qual o tamanho da nossa, quando achamos que podemos viver bem na falsa segurança da individualidade? Quanto riso, quanta alegria escondemos nas dobras de nossa alma, nas gavetas de nossa acomodação? Estamos no fim de fevereiro, 2011 está começando agora, Já não é tempo de abrir nosso coração e voltar a sonhar? Sonhar com bons momentos, boas conversas, confidências, com o riso fácil que só entre amigos queridos acontece. E tornar realidade nossos sonhos? Atravessando a rua para dar bom dia, telefonando para dizer que sente saudades, importando-se com o gato ou com o cachorro da vizinha. A vida pode ser cheia de surpresas para quem se dispõe a abrir o coração! Ao receber amigos num sábado chuvoso que tinha tudo para ser um transtorno, me surpreendi com o bem-estar e a alegria que aquelas pessoas me proporcionaram, e me dei conta do quanto nossa qualidade de vida está em nossas mãos, do quanto mal podemos causar a nós mesmos, fechando nossos corações para o calor do amor, dos amigos e da energia do impulso vital. Aqui no sindicato, somos muitos, de peito aberto, sonhando e realizando juntos!
Música do título:
Canção de verão - Roupa Nova
