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Por que não? Porque não!

Quem nunca ouviu essa resposta tão definitiva quando criança? O “porque não” colocava um ponto final em qualquer questionamento, era fim de conversa. Não sabíamos como reagir à tamanha autoridade.

Apesar da falta de jeito de nossos pais, havia a possibilidade de que a negativa fosse para o nosso bem. Hoje, adultos, reconhecemos o “porque não” maquiado com expressões da moda discursiva. Ele pode enganar os distraídos, mas ele está lá.

Por que não pagar os precatórios? Porque não.

Por que não pagar o piso do magistério? Porque não.

Caminhando contra o vento, vivemos como se não tivéssemos a nossa Constituição norteadora. Alguns governos são mais caprichosos na arte do desrespeito às leis e, até mesmo, em descumprir leis de sua própria autoria, como é o caso das RPVS. Quem trocou precatório por RPV para receber mais rápido experimenta, hoje, o gosto amargo do engodo. Estamos com ação tramitando para tornar sem efeito essa lei inconstitucional. O mesmo ocorre com ação impetrada pela União Gaúcha em Defesa da Previdência Pública, da qual fazemos parte, contra o aumento do desconto da previdência, que já consta em todos os contracheques. Todo projeto de lei que aumente contribuição do servidor deve ser acompanhado de cálculo atuarial justificativo. O que não ocorreu nesta votação. Esperamos que o Poder Judiciário não compactue com a inconstitucionalidade e não endosse um estudo equivocado e encomendado às pressas depois da votação. Podem ter certeza: este dinheiro não vai para a previdência. O fato é que passamos de 11% para 13,25% de contribuição (por enquanto). Para custear qual fundo? Respondo, amigos, para custear o saco sem fundo do caixa único, para tapar os furos de uma administração, no mínimo, ineficiente. De novo, o dinheiro da previdência bancando remendos de asfalto e orçamento às vésperas de eleições e sustentando benesses diversas. Misturei precatórios com piso salarial e desconto da previdência? Faltou, ainda, o ataque aos depósitos judiciais, 4 bilhões. É para somarmos tudo que o governo deixa de cumprir, deixa de pagar e arrecada de maneira torta e questionarmos (não somos mais crianças): para onde vai este dinheiro?

O discurso despido da maquiagem da retórica revela a resposta que não mais aceitamos passivamente: porque não e pronto! É por isso que o povo foi para as ruas, que entramos com ações judiciais, criamos frentes, realizamos seminários, botamos a boca no trombone! Agora temos a resposta na ponta da língua: autoritarismo, intransigência e ameaças não colam mais!

Para ler ao som da música Alegria Alegria - de Caetano Veloso

Por que não? Porque não!
Katia Terraciano Moraes
Diretora