Hoje estamos completando 30 dias de isolamento social. Em 18 de março fechamos as portas físicas do Sinapers, deixamos nossas mesas de trabalho, as paredes, o burburinho do Centro e da nossa rotina de estar sempre correndo para dar conta da confiança depositada em nós. Que bom que tomamos, na hora certa, a decisão de fechar. Assim, conseguimos nos organizar para garantir o atendimento remoto para todos e eliminamos as possibilidades de contágio entre nós e nossas filiadas.
Estamos passando por um momento muito diferente de tudo que já vivemos, um momento novo e surpreendente. No decorrer das últimas décadas, experimentamos inúmeras coisas novas, aprendemos a usar um caixa eletrônico, passamos a carregar nossos telefones na bolsa e depois, com a chegada da internet móvel, temos até um aparelho que nos permite levarmos nossa vida, nossa família, amigos e amores aonde estivermos. Assistimos a tragédias ambientais, a volta da democracia e a democracia ameaçada, a criação dos sindicatos e o ataque aos sindicatos...tantas coisas. Dengue, Zica, Chicungunha, H1N1... Mas, também, medicamentos, vacinas, novas tecnologias na medicina e em nosso cotidiano.
Agora temos diante de nós um novo desafio, driblarmos um novo vírus. Achamos que poderíamos até vivenciar uma terceira guerra mundial, mas não pensamos na forma com que ela poderia se apresentar. Ainda se sabe pouco sobre este nosso popular inimigo. Sabemos que se propaga com muita facilidade e rapidez. O Novo Coronavírus pega carona nas gotículas da nossa saliva quando falamos e até, da nossa respiração, causando sintomas comuns das gripes e resfriados que já conhecemos. O problema é que em alguns casos, infelizmente, pode ser fatal. Toda esta nova situação nos pegou de surpresa, mas mar tranquilo nunca fez bom marinheiro, já passamos por outros temporais e aprendemos a mover nossas velas na direção do nosso equilíbrio. Neste caso, o único caminho seguro é recolhermos as velas e firmarmos as âncoras na terra firme de nossos lares.
Mas este novo vírus está despertando em nós o espírito de coletividade e solidariedade. Está fazendo com que a gente perceba que a nossa saúde depende da saúde do outro, que a nossa vida depende da vida do outro. Mas teremos que esperar, não sabemos ainda por quanto tempo, para abraçarmos nossos amigos, passarmos nosso mate como quem compartilha o cachimbo da paz e dividirmos o guarda-chuva com a colega. Assim, quando nos encontrarmos para dançarmos novamente juntos, estaremos transbordando de saudade e poderemos rir e falar alto como nas mesas dos domingos da infância. Logo estaremos fisicamente juntos, mas enquanto este dia não chega, estamos tendo a benção de, sem as cobranças internas e autossabotagens, percorrermos com serenidade o templo interno em que moramos. Nossos pés, descalços pela humildade imposta pelo momento, estão conhecendo nossas cavernas e nossos montes e nos mostrando que somos um só organismo. Solidariedade, compaixão, empatia... Estas são as lições que a vida está nos oferecendo.
Saibamos vivenciar este momento e valorizar quem somos e quem temos ao nosso lado. Quem, na impossibilidade da presença física, quer estar conosco mesmo que virtualmente? Quem telefona, quem dá bom dia no Whatsapp, quem manda foto da comida que está fazendo, quem liga e quem se importa conosco? Às vezes, estar perto não é estar dentro. Por isso não me sinto só, tenho vocês, filiadas, funcionários, diretoria, assessorias e colaboradores dentro do meu peito. Não vejo a hora de abrir as portas do nosso sindicato, encontrar a todos e ouvir todas as histórias e aventuras dessa incrível viagem que estamos fazendo sem escalas, para nossa vida plena e para nossa saúde. Não vejo a hora de vê-las cantando, dançando, vibrando pela vida. Que saibamos valorizar o que temos e o que somos, somos todas fibras de um feixe que jamais se romperá.
Katia Terraciano - Presidente do Sinapers.

